quinta-feira, 4 de abril de 2013

conto 6


Que ódio!

 

Todos os sentidos foram aguçados. O sangue ferveu e as mãos começaram a tremer. Claro que ia virar fofoca! Aquelas palavras corroeram-lhe as entranhas como uma pichação no isopor. Por que tinha que ter contado a ela que não estava feliz com a situação? Devia saber que se tivesse mentido, talvez nada daquilo aconteceria.

A vontade era de socá-la, agarrar seus cabelos e rodar, como na Idade da Pedra, quando os homens arrastavam suas mulheres pela floresta.

Assim que ouvira as palavras envenenadas, seguidas do sorriso traiçoeiro, entrou em pânico – um pânico privado e silencioso. O pior de sua vida. O rosto fervia. Então seus olhos esquentaram e derreteram, como se tudo terminasse ali. Tentou esconder-se, abaixando a cabeça. Temia que alguém percebesse o seu estado calamitoso e de maneira alguma, queria que a responsável por tudo aquilo a visse assim. Seria como oferecer ao leão uma bandeja com suculentos cordeiros.

Sua sede de defesa foi maior. Virou-se para a pessoa mais cruel que conhecera na vida, - absorvendo todos os seus traços da malfeitoria na memória. E assim, despejou todas as palavras que estavam entaladas na garganta, como um momento traiçoeiro, insano, em que nada parece normal.

Autora: Lya Gallavote.

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