PRIMEIRO
DIA DE AULA DE RENATA
Era
o começo do primeiro ano do Ensino Médio, e Renata não tinha ideia do que
encontraria pela frente. Esperava que fosse diferente da outra escola em que
havia estudado, já que também estava em uma cidade nova, com pessoas distintas.
Assim
que o carro parou na porta, Renata logo avistou seu primo Marcelo caminhando
com o sorriso estampado no rosto. Parecia feliz; afinal, aquele era o
território dele. Com certeza, zombava de algo ou alguém e ainda ria como se
fosse a coisa mais importante do mundo. Ainda bem que combinara com ele de não
se falarem por um tempo. Não contariam a ninguém que eram primos. Pelo menos
até ela conhecer pessoas novas e se sentir à vontade para revelar o grau de
parentesco deles. Quem sabe assim, as pessoas não a associariam a Marcelo como
sendo parecidos. Deus me livre parecer
com ele!
Até
que ela viu seu primo se espatifar no chão e todos os seus amigos olhavam para
ele sem entender nada. Mas... O que ele
está fazendo? Ah, não! Ele bateu naquele garoto. Preciso ajudá-lo.
Renata
saltou do carro às pressas e correu para impedir que seu primo machucasse o
garoto.
Esperou
que Marcelo e seus amigos se afastassem um pouco para se aproximar dele, que
agora tentava se recompor do tapa. Talvez estivesse zonzo por bater a cabeça na
parede. Era melhor ajudá-lo a se levantar.
Renata
segurou em seu braço, ajudando-o da melhor maneira que conseguiu.
‒
Você está bem?
Olhos
grandes e expressivos, sobrancelhas grossas, cabelos desalinhados. Um gato!
Uau!
‒
Eu estou bem ‒ respondeu secamente.
Ela
apertou ainda mais seu braço, enquanto ele se levantava em um salto.
‒
Tem certeza? Ele bateu bem forte em você.
‒
Só quero ir para a sala de aula, ok? ‒ disse com um tom firme.
‒
Esses caras são uns imbecis! — disse
ela, tentando melhorar a situação.
O
garoto limpava a roupa, sem levantar a cabeça. Estava nitidamente nervoso. E
quem não estaria? Principalmente por ser o primeiro dia de aula e a recepção
não ter sido nada agradável. Ele tinha alguma coisa que o diferenciava dos demais
garotos. Talvez uma sinceridade em seus gestos.
‒
Se você quiser, podemos ir à diretoria e dar queixa desse garoto...
‒
NÃO!
Renata
soltou rápido a mão do braço dele. Nossa!
O que foi que eu fiz? Por que ele está gritando comigo? Quando, então, os
olhos castanhos dele encontraram os dela, por um segundo, sentiu um espasmo de
calor. Mas... O que é isso, Renata? Mal
chegou neste colégio, e um garoto já mexeu com seus sentidos? Deu um passo para trás, empurrando os
óculos de forma automática. Ele não parava de olhar, e ela aproveitou para
examiná-lo. Ele era atraente, simpático e lindo!
‒
Desculpe, não queria gritar. Mas, é que...
‒
Tudo bem ‒ ela recolheu os braços, cruzando-os na frente do corpo. ‒ Eu só acho
que esses idiotas têm que saber que eles não podem fazer o que querem. Você
está bem?
‒
Acho que sim. Pelo menos, estou vivo.
Ela
sorriu.
‒
Eu sou Renata, sou nova por aqui.
Ele não vai dizer nada? Será que
terei que perguntar seu nome? Claro que queria saber
o nome dele; aliás, queria saber muito mais coisas sobre ele do que imaginava.
Este parecia envergonhado com alguma coisa. Talvez por gritar com ela.
‒
Meu nome é Lucas. Certo, vamos esclarecer uma coisa. Isso não costuma acontecer
comigo...
Hã? Tenho certeza que não! Marcelo
é um idiota mesmo e eu sei bem disso.
‒
Não precisa se explicar. Eu odeio esse tipo de garoto que gosta de ser o
valentão pra se aparecer. Tem certeza que você está bem?
‒
Er... Estou sim.
Por que ele está balançando a
cabeça? Bom... Era hora de subir.
‒
Bem, então... Vou entrar. Vejo você por aí, Lucas.
Lucas.
Um gato!
Não posso deixar de me aproximar.
Com certeza, vou procurá-lo no intervalo para conversarmos um pouco melhor.
Acho que poderemos ser grandes amigos. Ou talvez... mais que amigos, quem sabe!
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